segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Frei Carlos Mesters visita a Ocupação Dandara



Prof. Fábio Alves[1] e frei Gilvander Moreira[2]



Sábado, dia 15 de agosto de 2009, dia da Assunção de Nossa Senhora, os carmelitas frei Carlos Mesters e o frei Alberto Fernandes visitaram a Ocupação Dandara, no bairro Céu Azul, na região da Nova Pampulha, em Belo Horizonte, onde 1.087 famílias sem-casa e sem-terra ocupam um terreno de quase 40 hectares (quase 400 mil metros quadrados) abandonado há décadas, sem cumprir a função social. A construtora Modelo, que reivindica a propriedade do terreno, deve milhões de IPTU à prefeitura de Belo Horizonte. A Construtora Modelo junto com sua co-irmã a Construtora Lótus enfrentam mais de 2.557 processos na justiça.

No momento em que frei Carlos Mesters, frei Alberto, frei Gilvander, os professores Cristiano, Fábio Alves, Antônio Júlio e muitos/as outros apoiadores – acompanhados de muita gente de Dandara - peregrinavam pelos barracos da Ocupação Dandara chegou um caminhão com tijolos e areia para a construção da casa de uma das famílias do acampamento. Apressadamente, o povo conseguiu descarregar apenas os tijolos, enquanto várias viaturas da polícia chegavam com as sirenes alardeando que um aparato bélico estava chegando ali para proteger os interesses da Construtora Modelo. A Polícia Militar, ilegalmente, impediu a entrada do material. Prendeu o motorista e o caminhão. O tenente que coordenava a operação dizia que a ordem do Coronel Euler Queiroz, comandante do 13º Batalhão da PM, continua sendo a de não permitir a entrada de material de construção. Isto vem acontecendo há quatro meses. A Promotora de Direitos Humanos esteve na Dandara e disse que a PM não poderia impedir a entrada do material de construção. Afinal de contas a comunidade está na posse da área por decisão Judicial da Corte Superior do Tribunal de Justiça de Minas. E a Justiça não restringiu o uso e gozo da posse de nenhuma maneira. Logo, a polícia está agindo de forma ilegal e truculenta; está ignorando a decisão judicial de um tribunal. Isso é um absurdo.


Após ver com os próprios olhos a agressão da polícia ao povo da Ocupação Dandara, após cumprimentar muitas pessoas, ouvir os clamores de várias pessoas que lutam para conquistar uma casa para viver com dignidade, em reunião com os moradores, Frei Carlos Mesters falou por uns dez minutos sobre passagens bíblicas que animam a caminhada do povo. Partiu da história de Moisés. Lembrou que, no Egito, havia uma ordem do Faraó, ordenando a morte dos meninos que nascessem das mulheres dos hebreus. As parteiras, driblando a vigilância da polícia do rei, deixavam nascer os meninos e não os matavam. Chegaram a ponto de colocar um desses meninos perto de onde se banhava a filha do rei. Esta protegeu a criança e, sem saber, deu à própria mãe a criança para que ela cuidasse por um tempo. As parteiras e a mãe de Moisés foram muito espertas e salvaram a vida das crianças. Eram simples como as pombas, mas foram espertas com as cobras.

Depois veio a luta de Moisés para não aceitar o convite de Deus para libertar o seu povo do cativeiro do Egito. Moisés tinha medo. Deus, porém, foi firme com ele. E o povo partiu para a liberdade. Quando chegou diante do mar, teve um impasse. Na frente, o mar; detrás, o exército do Faraó, querendo trazer o povo de volta para o cativeiro. Moisés, então, mandou o povo dar um passo adiante. O povo deu um passo adiante e o mar se abriu. O medo foi vencido pelo povo unido e organizado. O povo que tinha fé no Deus da vida, fé em si mesmo e nos pequenos.

Deus disse a Moisés: pegue esta cobra pela cauda. Moisés vacilou. Deus insistiu. Moisés adquiriu coragem e pegou a cobra pela cauda. A cobra se transformou num bastão, com o qual Moisés bateu no mar e o mar se abriu, bateu na rocha e dela saiu água. Assim aconteceu com Moisés, com Arão e com tantos do passado. Assim, o que era obstáculo se transformou em instrumento de libertação. O que parece impossível à primeira vista se torna possível quando se luta com fé e firmeza.


Deus hoje chama a cada um/a dos moradores da Ocupação Dandara a continuar na luta pela libertação. Ninguém precisa obedecer a uma lei injusta e imoral. Não pode ser a polícia que diz o que o povo deve ou não fazer. O povo, como as parteiras do Egito, tem que criar formas alternativas para fazer o material de construção entrar no acampamento. Deus quer que o povo dê um passo adiante, mesmo que o mar da dominação esteja à frente. Se o povo constrói a casa, o mar vai se abrir, como se abriu no tempo de Moisés. Construir a casa em mutirão num terreno conquistado na força da união é construir sobre a rocha. A casa não cairá se vier uma tempestade. A Comunidade Camilo Torres, no bairro do Barreiro, em Belo Horizonte, está dando o exemplo, 140 famílias que não tinham casa para viver resistem há quase dois anos e já construíram na raça 140 casas. Estão livres da cruz do aluguel e das áreas de risco.

Após a reflexão de frei Carlos Mesters, depois de orações e hinos, o povo ficou mais animado para continuar a luta.

P.S.: Em breve enviaremos um vídeo sobre a visita de frei Carlos Mesters ao povo da Ocupação Dandara.

Cf. www.ocupacaodandara.blospot.com